Como a música afeta o cérebro das crianças?
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Por todo o mundo, os pais utilizam a música na sua relação com as crianças, através das canções de embalar, das canções com rimas, das danças… Os pais sabem instintivamente o que os cientistas têm provado: a música é um dos melhores veículos para a aprendizagem no desenvolvimento da primeira infância. Segundo Oliver Sacks, “a atividade musical envolve várias funções do cérebro (emocional, motora e cognitiva), muito mais do que as que usamos para o outro grande feito humano, a linguagem. Por isso, é que a música é uma forma tão eficaz de nos lembrarmos e de aprender.”.
Algumas investigações científicas têm estudado os efeitos da música nas crianças desde os primeiros anos de vida. Um dos estudos relata que crianças que frequentam aulas de música durante pelo menos dois anos revelam maior atividade cerebral nas áreas associadas às suas funções executivas — ou seja, os processos cognitivos que permitem aos seres humanos processar e reter informações, resolver problemas e regular comportamentos. Na Universidade de Toronto, o QI (quociente de inteligência) foi avaliado em crianças de 6 anos, antes e depois de aulas de canto e teclado, e as médias de QI aumentaram. Estes resultados sugerem que a aprendizagem musical pode, de fato, ajudar as crianças a alcançarem metas acadêmicas mais ambiciosas. Provavelmente já ouviu falar do “efeito Mozart” que sugeria que ouvir música clássica podia melhorar a memória e a inteligência, contudo os estudos posteriores não encontraram os mesmos resultados. Segundo uma investigação na Northwestern University, para que a criança beneficie cognitivamente de música, não pode estar apenas sentada a ouvir, mas sim estar envolvida plenamente na música e participar ativamente na aula. Só através da criação ativa e manipulação de som é que poderá haver um desenvolvimento do processamento neural e a música poderá reprogramar o cérebro. Contudo, quando as crianças estão constantemente envolvidas pela música (seja ouvida ou tocada) beneficiam a vários níveis: intelectual, auditivo, sensorial, motor e socio-emocional. Vejamos alguns exemplos em específico: – facilita a aquisição da linguagem e processo de alfabetização precoce, ganhando as habilidades de processamento fonológico e aptidões de compreensão, que são a base da leitura. – desenvolve as habilidades de raciocínio necessárias para a matemática e ciência. – desenvolve o raciocínio espacio-temporal: aprender instrumentos musicais envolve notas de interpretação e de símbolos musicais para formar melodias – uma série de sons que variam com o tempo. Portanto, fazer música melhora a capacidade de visualizar e transformar objetos no espaço e no tempo. – influencia as relações interpessoais, sendo uma forma de aproximação, comunicação e convívio social. – auxilia a regulação emocional, despertando sensações positivas e diminuindo os níveis de ansiedade e stress, promovendo uma sensação de relaxamento e menor tensão muscular. – melhoram habilidades motoras: dançando a música e tocando instrumentos simples, as crianças desenvolvem a coordenação motora. – promove a criatividade: segundo um estudo, quando músicos de jazz tocam de improviso, os seus cérebros “desligam” áreas ligadas à autocensura e à inibição e ativam aquelas que deixam fluir a auto expressão. Assim, davam espaço à criatividade, conseguindo tocar uma música inédita. – potencia a memória e a atenção, por exemplo, decorando letras e notas de músicas, ouvindo outros idiomas.
Como vemos, a música é muito mais do que diversão para as crianças e tem múltiplos benefícios, que fazem sentir-se nos mais variados contextos onde interagem. Use e abuse da música, explore com o seu filho vários estilos musicais diferentes, produzam sons com instrumentos caseiros, improvisem letras de canções, dancem livremente… Estejam atentos às sensações corporais e às emoções que sentem ao ouvir determinados sons. Certamente estes momentos serão associados a determinadas músicas, enriquecerão a vossa relação e darão origem a deliciosas memórias de infância.
Fonte: O Nosso T2