Contato das crianças com o universo sonoro enriquece a percepção e estimula o cérebro
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O neurologista e escritor britânico Oliver Sacks (1933 - 2015), autor de Alucinações musicais – Relatos sobre a música e o cérebro (Companhia das Letras, 2007), dizia que a música é um elemento com tal potência que consegue moldar o cérebro. Partindo do pressuposto de que isso é verdade – em seu livro, Sacks descreve uma série de casos intrigantes a esse respeito envolvendo adultos. O tema dá mais relevância ao trabalho com música e sonoridades em geral na educação infantil, momento em que os estímulos têm efeitos poderosos no desenvolvimento cognitivo das crianças.
Como diz o psicólogo cognitivo norte-americano Howard Gardner, as “janelas” das habilidades estão mais abertas do que nunca nessa fase da vida. Cabe ao educador a importante tarefa de aguçar o aprendizado com atividades que envolvam os mais variados sons, melodias, canto e gestos. Trata-se do processo de musicalização infantil, responsável por desenvolver habilidades como criatividade, imaginação, atenção e autodisciplina, entre outras tantas.
Para isso, é importante que os alunos tenham contato com elementos como terra, grãos, sucata e papelão, por exemplo. O objetivo é envolver e despertar o interesse pelos sons – qualquer tipo deles – que podem ser produzidos de uma maneira simples e com materiais do dia a dia. Assim, as crianças podem perceber as particularidades de cada som.
Músicas para a vida
O contato da criança com a música acontece desde cedo. A partir do quinto mês de gestação, o bebê passa a ouvir e a reagir aos sons emitidos perto do útero da mãe. Uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade de Helsinque, na Finlândia, reforçou a importância dessa proximidade. Segundo o estudo, o cérebro dos pequenos é capaz de armazenar informações antes do nascimento, o que contribui para o aprendizado da linguagem posteriormente.
Outra análise feita recentemente pelo Laboratório de Neurociência Cognitiva do Hospital Infantil de Boston, nos EUA, comprovou que o contato mais intenso com sons e movimentos influencia diretamente a capacidade cognitiva. Daí a importância de proporcionar uma vivência musical à criança, principalmente no período entre os três e os seis anos de idade.
A neurociência constatou que as canções têm o poder de modificar o espessamento do corpo caloso do cérebro, um fecho de fibras que une o hemisfério direito ao esquerdo. Essa estrutura é responsável pelas conversas entre as duas partes do órgão. Quando se estuda música, por exemplo, a área se expande e proporciona ganhos que permanecem para a vida inteira. Entre as habilidades trabalhadas estão: percepção do espaço, atenção, imaginação, criatividade e até o respeito ao tempo. “O aprendizado é muito grande. Os benefícios para o comportamento e para o desenvolvimento emocional são imensuráveis”, finaliza.
Fonte: Juliana Duarte, no portal www.revistaeducacao.com.br